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domingo, 30 de abril de 2023

Caminhos Magnéticos

Título: Caminhos Magnéticos
Autor: António Madeira (Pseudónimo de Branquinho da Fonseca)
Editor: Edições Europa (Lisboa)
Edição: 1ª edição
Coleção: Colecção de Autores Modernos Portugueses
Género: Contos
Idioma: Português
Ano: 1958 
Dimensões: 24,8 cm x 32cm 
Encadernação: Capa mole
Nº de páginas:  1 páginas 
Estado de conservação: Bom
Ilustrações: 

Preço:     45,00 €
Referência: 2304099
 
Sinopse: Branquinho da Fonseca, Mortágua, 1905 - Lisboa, 1974
Poeta, dramaturgo e ficcionista, filho do polémico escritor Tomás da Fonseca, frequentou os primeiros anos do curso liceal, em Lisboa. Com dezasseis anos vai para Coimbra, onde terminou os estudos secundários e o curso de Direito em 1930. 

Em 1935, foi nomeado Conservador do Registo Civil em Marvão, tendo desempenhado as mesmas funções na Nazaré, em 1936. No ano de 1943, é provido no lugar de Conservador do Museu-Biblioteca Conde de Castro Guimarães, de Cascais, onde já residia e onde lançou a experiência das bibliotecas itinerantes, o que foi aproveitado pela Gulbenkian, que o convidou para organizar e dirigir o Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas, dessa mesma Fundação, a partir de 1958, tendo sido o seu primeiro director, até à data da sua morte. 

Usou o pseudónimo de António Madeira, e o seu itinerário artístico pode ser balizado seguindo a bibliografia adiante inclusa. Colaborou nas revistas Manifesto, 1936, e Litoral, 1944. Foi co-editor das revistas Tríptico, revista de arte, poesia e crítica (Coimbra, 1924-25), Presença, folha de arte e crítica (de 1927 a 1930) e Sinal, revista literária (Coimbra, 1930).

 Branquinho da Fonseca foi um presencista. Para o compreendermos, deveremos lembrar a principal característica desse movimento: a total liberdade de criação artística, movida pela necessidade de cada qual poder assumir a sua própria verdade e sensibilidade, donde a assumpção de um individualismo subjectivo bastante descomprometido com o social e o político. A dor de homem isolado conduzi-lo-á a uma lúcida auto-análise e a um confessionalismo directo e extremamente transparente, num discurso concreto mas simultaneamente onírico, sempre autêntico: «ai daquele que se perde de vista a si próprio», confessou-o.

Se observarmos de perto o quase omnipresente narrador-personagem, não poderemos deixar de ver nele um auto-retrato, do qual se destaca uma permanente hesitação e insegurança, em termos comportamentais, que chega a atingir a desistência, associada à inadaptação a um mundo social que lhe é hostil e que o arrastou para o cepticismo político-social: «todos (os caminhos) vão dar a Roma». Compreendemos, assim, a sua introversão egocêntrica e amargurada, pois «o meu reino é uma ilha». A timidez e cautelas que manifesta perante os vários companheiros de viagem (e perante a mulher, a que nunca acederá) impediram-no sempre de os contrariar ou de se lhes opor, permitindo-nos talvez apreender as razões, tão visíveis na sua obra, da sua extrema susceptibilidade quanto a sentimentos como o de se sentir ridículo ou facilmente vexado: «desprezarem as coisas... mas de que sou escravo, é a pior humilhação... o maior vexame». Para se defender de todos estes constrangimentos e escravidões, o caminho encontrado parece ter sido o do distanciamento das coisas, com a subsequente atitude racionalista e irónica que perpassa em todos os seus textos, devendo o aparente amoralismo e indiferença ética, por outros detectados, mais não ser do que uma resultante óbvia dessa mesma atitude. Na verdade, se o confronto entre personagens é só inicialmente esboçado, é porque as situações conflituosas não devem fazer parte das perspectivas e atitudes do escritor, acabando por diluí-las, ou mesmo anulá-las, por meio de palavras e gestos socializados, tantas vezes através da bonomia, indiferença ou humor, o que não quer dizer que não mostre hostilidade contra os preconceitos políticos e ideológicos que, na altura, faziam eco, mas que considerava inadequados porque sub-repticiamente falsos e enganadores.

Essa mesma habilidade estendeu-a contra a cidade e contra a própria família, enquanto espaços fechados geradores de hipocrisias, dos quais «Curva do Céu» é um símbolo, na figura da criança moribunda, a quem apenas concede o poder de sonhar. Atendendo agora à dinâmica e características globais, quer da obra ficcional, quer do próprio A., dir-se-á que não haveria outra alternativa que não fosse a da criação, como elemento nuclear, de um narrador omnisciente e participante, para se poder assumir como testemunha (e até mesmo como inspector) – «encontro-me a observar-me as reacções... as ideias» – perspicaz e inteligente e que desempenhasse plenamente as funções de condutor interno dessas mesmas narrativas. É que isso permitir-lhe-ia coordenar e ajustar os processos narrativos e introduzir neles as componentes da personalidade artística de Branquinho, mormente a necessidade de confissão e comunhão com o leitor, por meio de uma linguagem directa, coloquial e luminosamente transparente, desnudando intimidades psíquicas (sobretudo através do monólogo e da divagação) e que sentimos como totalmente sinceras e verdadeiras, até porque o destinatário é também o próprio escritor.

Associado a este narrador-personagem, encontraremos habitualmente um companheiro de viagem, formando com ele uma dupla de solitários, por vezes dissimulados, mas sempre interactivos e desencadeadores da acção. A instituição destes dois pólos narrativos facilita a cisão fictícia de um todo, que engendra um esboço de confronto dramático. Num desses pólos, encontraremos uma unidade consubstanciada no viajante mental, o escritor que tem a função de se transcrever e de testemunhar o outro, mas confessadamente sedentário: «para pensar bem é preciso estar quieto», utilizando um discurso metonímico, essencialmente referente de um mundo quotidiano e natural, profundamente racional e lógico, porém estranhamente voluptuoso, elegante, lírico e cândido, numa justaposição de frases eminentemente coordenadas por adversativas – necessárias à premente introdução do inesperado, invulgar e insólito – e tantas vezes expressionistas pela captação subjectiva e deformadora do pormenor que habita o mundo real. No outro pólo, encontramos o mundo da acção, o do viajante dinâmico que se exprime através do diálogo ou dos seus comportamentos, retratando um eu apaixonado, onírico e dramático, gerador de situações enigmáticas, plurissignificantes e intrinsecamente simbólicas. Não será pois de estranhar que esta personagem possa ser, por um lado, agressiva, prepotente ou intimidante, ao começo, e tornar-se depois gentil e afável, mesmo tímida e ingénua, para que se possa estabelecer, entre os dois pólos, a comunhão e uma ponte. É nesta comunhão, «agarrando-lhe no braço, já familiarmente», que os dois vectores se associam num sistema muito bem urdido e coerente, que só uma experiência vivencial própria poderia ter construído. Esta dupla toma existência em vagabundagens nocturnas, no meio das sombras e em espaços sem nome, labirintos e encruzilhadas perdidas algures em solares arruinados, onde o «de repente» e o inesperado brotam a todo o momento, formando um tecido de sonhos, uma paisagem kafkiana, mas sempre real porque psicologicamente coerente e verdadeira.

Sendo a obra do A. constituída por poesia, teatro, romance e contos, só estes denunciam um nível de maturidade que atinge a perfeição, destacando-se O Barão, Rio Turvo e O Involuntário. Ler estas narrativas é ler, de facto, o essencial de Branquinho. Quanto aos restantes trabalhos, quase poderíamos considerá-los «apontamentos» de uma fase experimental, produto de uma verdura da juventude, o que não impede que neles se manifestem positivas realizações do vanguardismo pós-modernista.

De qualquer forma, Branquinho não constrói histórias de amor, como já tem sido sugerido, onde a procura da mulher se torna tema. Os desencontros amorosos são, na verdade, episódicos. Os verdadeiros temas são o da auto-confissão e o do encontro, comunhão e entendimento entre as duas entidades já assinaladas, as duas instâncias de um único «eu» perante o inelutável que será o da mulher etérea, botão de rosa, vestal, «um astro que circundo que é só meu e não habito», reconfirmado pelo «busco...aquela a quem ama a minha alma». Dir-se-á um poeta sem corpo, ainda na «eterna juventude», fechado no seu casulo. Nele, poderemos ver a paixão mas nunca o amor, daí que as suas narrativas sejam uma «viagem / que não começou nem acabou».

in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. IV, Lisboa, 1997

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

O Barão

Título: O Barão
Autor: António Madeira (Pseudónimo do Branquinho da Fonseca)
Editor: Editorial "Inquérito", Lda.
Coleção: Novelas "Inquérito"
               As Melhores Novelas dos Melhores Novelistas
Edição:   1ª edição
Ano: 1942
Número: 46
Nº de páginas:  80 páginas
Dimensões: 12,5 cm x 19 cm
Estado de conservação: Excelente exemplar, páginas por abrir

Preço:   40,00 €
Referência: 2212012

Sinopse: "O Barão, que Branquinho da Fonseca publicou pela primeira vez em 1942, sob o pseudónimo de António Madeira, é uma das mais significativas, densas e complexas novelas do autor. Um inspetor das escolas de instrução primária vê-se, por imposição das suas funções, coagido ao nomadismo. E dispõe-se a escrever para contar uma inesquecível viagem de serviço que o levara a um vetusto solar de província, onde o Barão se condenara a um sedentarismo solitário e dramático. Personagem intrigante e contraditória, que oscila entre a tirania e o sentimentalismo, o Barão apodera-se do inspetor e obriga-o a partilhar o seu mundo durante uma noite alucinante marcada por confidências delirantes e cenas imprevistas. A intrigante figura do Barão, com as suas qualidades e defeitos, as suas obsessões e os seus sonhos, é simultaneamente uma realidade, um mito e um símbolo."

domingo, 16 de dezembro de 2018

O Barão

Título: O Barão
Autor: Branquinho da Fonseca
Posfácio: José Régio
Capa: João da Câmara Leme
Colecção: O Livro de Bolso | Série o Livro de Bolso Contemporâneo (Nº 38)
Editora: Portugália Editora
Edição: 4ª Edição
Ano: 1962, Lisboa
Impresão: Composto e impresso na Tip. Leandro, Lda., Lisboa
Estado: Bom

Preço: 7,50 €
Referência: 1812033

Sinopse: "...E ia beberricando sempre, com pequenos intervalos, como se a garganta lhe secasse e tivesse de a ir molhando. A princípio ainda esperei ver surgir alguma pessoa de família, mas conforme iam passando as horas fui compreendendo que aquele solar era apenas o covil do famigerado Barão e seus criados. Em nossa volta, em toda aquela casa que eu adivinhava enorme, com largos corredores sem fim, entre salas mortas, pesava cada vez mais um silêncio que eu nunca tinha sentido: inquietante e ressoante como se a casa estivesse metida dentro de uma cisterna. Ele ia contando histórias do seu tempo de Coimbra, que eu ora ouvia com atenção, ora deixava de ouvir, distraído com qualquer outro pensamento, como fosse, por exemplo, a verdadeira fome que começava a torturar-me..."