Sinopse: "Este livro é uma contribuição para a necessária
revisão das ideias correntes acerca das causas, função e consequências da
Inquisição portuguesa. As suas conclusões estão sujeitas a riscos inerentes a
tudo o que sobre a Inquisição se diga enquanto não se fizer o estudo
sistemático do material da Torre do Tombo."
Segunda edição, integrada na
"Colecção Saber". A capa retrata S. Domingos com uma espada na mão
esquerda e um ramo de oliveira na direita, tendo a seus pés um cão que segura
nos dentes uma vela acesa, cuja chama toca numa esfera redonda com uma cruz.
Por cima da cabeça pode ler-se: "Misericordia et Justitia."
Livro esmiuçado, esquadrinhado pela Direcção dos Serviços de
Censura, conforme relatórios n.º 7603 (20 de Dezembro de 1965) e n.º 8527
(Julho de 1969), do Regime Salazarista.
Do Autor: António José Saraiva ensaísta, investigador e crítico
literário, nasceu em a 31 de Dezembro de 1917, em Leiria, e morreu a 17 de Março de 1993, em Lisboa, depois
de vários anos de exílio. Licenciou-se com um Ensaio Sobre a Poesia de Bernardim
Ribeiro , apresentado na Faculdade de Letras de Lisboa, em 1938, tendo-se
doutorado na mesma faculdade, em 1942, com uma tese sobre Gil Vicente e o Fim
do Teatro Medieval. Afastado da docência universitária por incompatibilidade
com o sistema pedagógico e ideológico em vigor, foi professor do ensino
secundário. Mercê do seu envolvimento na acção cívica e política - António José
Saraiva assumiu, entre 1944 e 1962, a militância no Partido Comunista Português
- foi, depois de ter apoiado a candidatura do general Norton de Matos, em 1949,
preso e impedido de ensinar. Durante os anos seguintes, viveu exclusivamente
das suas publicações e da colaboração em jornais e revistas. No exílio desde
1960, foi, em França, bolseiro do Collège de France e investigador do Centre
National de Recherche Scientifique. Professor catedrático na Universidade de
Amsterdão, regressou a Portugal apenas em 1974, após a Revolução de 25 de
Abril, passando a desenvolver actividade docente na Universidade Nova e na
Universidade Clássica de Lisboa. Ao longo deste percurso profissional, António
José Saraiva publicou uma vastíssima e importante bibliografia, considerada de
referência nos domínios da História da Literatura e da História da Cultura
portuguesas, amadurecida quer na edição de obras e no estudo de autores
individualizados (Camões, Correia Garção, Cristóvão Falcão, Almeida Garrett,
Herculano, Fernão Lopes, Fernão Mendes Pinto, Gil Vicente, Eça de Queirós,
Oliveira Martins, entre outros), ressaltando-se nesse âmbito os vários estudos
que dedicou a Os Lusíadas ou ao Padre António Vieira, quer através da
publicação de obras de grande fôlego como a História da Cultura em Portugal ou,
de parceria com Óscar Lopes, a História da Literatura Portuguesa. Por outro
lado, a capacidade de rever com lucidez e audácia os seus próprios princípios
hermenêuticos conferem à sua obra ensaística um caráter paradigmático no que
diz respeito à necessidade de questionamento que deve subjazer ao labor do
estudioso. António José Saraiva legou, desse modo e também por uma postura
contestatária, manifestada na expressão de um olhar crítico sobre a sociedade
sua contemporânea, à posteridade, uma imagem de inconformismo face a todo o
poder que tenda para uma institucionalização - mau grado o reconhecimento unânime
de que gozava, como modelo cívico, junto da opinião pública recusou, por
exemplo, receber em vida qualquer galardão oficial -, ou a todo o saber que não
contenha em si a premissa fecunda da dúvida e da novidade.