O BIBLIÓFILO
Ó ambições!... Como eu quisera ser
Um pobre bibliófilo parado
Sobre o eterno fólio desdobrado
E sem mais na consciência de viver.
Podia a primavera enverdecer
E eu sempre sobre o livro recurvado
Sorriria a um arcaico pecado
A uma medieval moça e qualquer.
A vida não perdia nem ganhava
Nada por mim, nenhum gesto meu dava
Um gesto mais ao seu profundo
E eu lia, a testa contra a luz acesa.
Sem nada querer ser como a beleza
E sem nada ter sido como o mundo
Poemas de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa.