"Como o jornalista português Belo Redondo disse, "a vida
nacional gira à volta de uma chávena", numa referência inequívoca da
importância das tertúlias em Portugal. As tertúlias foram
"importadas" para Portugal de Paris, onde surgiram e se espalharam
pelo mundo, associadas aos cafés. Cada café tinha uma, ou mais, tertúlias sobre
temas diferentes. Paralelamente, os seus integrantes identificavam-se como
pertencendo à tertúlia A ou B, numa clara divisão das águas entre correntes de
pensamento diferentes.
Historicamente em Portugal, o Chiado, dado o grande número
de cafés aí existentes, assumiu a liderança em número de tertúlias; A
Brasileira, o Nicola e outros receberam tertúlias com participantes tão
influentes como Bocage, Alexandre Herculano, António Feliciano de Castilho,
Almada Negreiros, Eduardo Viana, António Botto, Fernando Pessoa, Mário de Sá
Carneiro ou Stuart Carvalhais entre outros. No Porto, o Majestic, A Brasileira
e o Guarany, eram os locais por excelência onde se reuniam intelectuais,
artistas e políticos. Coimbra, Faro, na realidade qualquer cidade ou vila de
Portugal, tinham, nos seus cafés, tertúlias onde se discutia tanto a política
nacional ou internacional, o futebol ou o mais recente mexerico da terra.
Foram em torno destas tertúlias de café que a política e as
artes portuguesas do século XIX e primeira metade do século XX se
desenvolveram, pelo cruzar de opiniões, troca de ideias, apresentação e
discussão de ideias e livros novos etc. Com o advento do Estado Novo, as
tertúlias tornam-se o último reduto da discussão livre da censura, mas, com o
tempo, são cada vez mais espiadas pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado
(PIDE). Um exemplo disto foi o Grupo do Café Gelo. Paralelamente, a melhoria
das comunicações, nomeadamente com o advento da televisão, e o aparecimento de
outros espaços, levaram ao desaparecimento gradual das tertúlias."
Todavia, na Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto, no CANTO III - Livraria Alfarrabista, a Tertúlia acontece.