Dá vida aos seus personagens, uns refletindo o seu ambiente de origem – Trás-os-Montes – a dureza e grandeza das gentes, outros no contraste com a cidade do Porto onde estudou e confraternizou com a elite intelectual da época: Ramalho Ortigão, Fialho de Almeida, Alberto Pimentel, Júlio César Machado...
Nas tertúlias dos cafés e botequins desfrutava do
incontornável vinho do Porto, dos licores e outras experiências gustativas, não
esquecendo a importância simbólica das icónicas tripas à moda do Porto, que
eram pretexto para convívio e celebração.
A gastronomia pontuava as opiniões, algumas marcadas pela
influência francesa e outras preservando a tradição e a cozinha nacional.
A imaginação cultivava a descoberta da arte da cozinha e
escondia a escassez de meios de grande parte da população.
A paixão pelas virtualidades gastronómicas levaram-no a elogiar pratos confecionados pela cozinheira Gertrudes Engrácia que o escritor começou a tratar por Madame Brillat Savarin, numa simpática alusão ao filósofo do gosto. O interesse de Camilo pela cozinha ficou patente na sua biblioteca onde figuravam obras de referência histórica.
Elzira Sá Queiroga aprofunda a investigação neste livro À Mesa com Camilo numa visita aos sabores da época, documentada com receitas que nos confirmam a dicotomia entre o meio rural e o citadino, quase sempre presente nas extensas obras do escritor. (da badana)