Título: O Caso do Convento das Trinas
História de um Crime Célebre
História de um Crime Célebre
Edição da: Empreza do "Portugal"
Composto e impresso na: Typographia do "Portugal"
Composto e impresso na: Typographia do "Portugal"
Ano: 1891 (Séc.: XIX)
Capa e direcção gráfica de:
Capa: Brochura
Número de páginas: 224
Dimensões: 12,2 cm x 17,8,5 cm
Estado de conservação: Bom, mantém as páginas por abrir, capa com manchas ácidas e papel amaralecido pelo tempo
Preço: INDISPONÍVEL (Livro raro de difícil aparecimento no mercado alfarrabista)
Referência: 2004049
Sinopse: "Julgamentos judiciais contestados pelas populações já
ocorreram noutras épocas, cujas dimensões atingiram contornos de mediatismo
nacional e até internacional e, nesses tempos, não havia o poder da comunicação
social tal como hoje o conhecemos. Neste contexto, irei recordar um episódio
que ocorreu em Lisboa, em 1891, que atingiu Braga em todo o seu esplendor e se
manteve durante vinte anos no centro das atenções dos portugueses!
A origem destas manifestações conta-se em poucas palavras:
- No dia 23 de Julho de 1891, no Convento das Trinas, em
Lisboa, faleceu uma menina de 14 anos, de nome Sara de Matos. Havendo dúvidas
quanto à sua morte, o caso acabou por parar à barra dos tribunais.
Depois de cinco anos de audições e investigações, a Justiça
concluiu que a morte da menina ocorreu devido a um medicamento mal administrado
pela Irmã Hospitaleira Rosa de Oliveira, conhecida por “Irmã Colecta” que,
inadvertidamente, lhe tinha dado sal de azedas. No entanto, a população
desconfiava de que a menina teria sido violada por um jesuíta, seguindo-se o
envenenamento pela freira.
No meio desta desconfiança, de imediato ocorreram dois
julgamentos em simultâneo: o judicial e o popular.
O Tribunal condenou a Irmã Colecta a 21 dias de prisão,
decidindo ainda que a pena teria que ser cumprida na prisão de Braga! Deste
modo, a chegada da Irmã Colecta a esta cidade ocorreu no dia 3 de Fevereiro de
1896, tendo de imediato seguido para a cadeia.
A entrada na prisão até passou despercebida, mas a sua saída
provocou enormes manifestações! Antes de a deixar, a “Irmã” foi à varanda da
cadeia e acenou à multidão presente. Ouviram-se, então, duas manifestações: uma
com fortes aplausos e outra com enormes assobios!
Logo que abandonou a prisão, os sinos das igrejas de Braga
tocaram, em sinal de alegria, e foram lançadas girândolas de foguetes.
Formou-se de imediato uma manifestação de apoio, na qual marcaram presença “as
senhoras de Braga”, sacerdotes, seminaristas, internados do Asilo de D. Pedro
V, do Colégio de S. Caetano, do Colégio da Preservação, do Colégio S. Luís
Gonzaga, da Oficina de S. José e ainda muitos populares. Quando o cortejo
passou pela rua dos Capelistas, várias pessoas lançaram flores à religiosa e
vários seminaristas levantavam “vivas” e formavam alas para que a “Irmã” pudesse
passar pelas ruas de Braga.
Toda esta multidão, calculada em cerca de seis mil,
acompanhou a Irmã Colecta, desde a sua saída da prisão até ao Convento do
Salvador, para onde a religiosa foi encaminhada e onde iria cumprir serviço aos
mendigos que nessa instituição se encontravam. Quando aí chegou, foram lançados
mais foguetes e a banda musical dos Órfãos de S. Caetano e das Oficinas de S.
José tocaram repetidamente o Hino da Carta Constitucional!
Por outro lado, daqueles que se opunham à sua libertação encontravam-se,
principalmente, republicanos, maçónicos e socialistas, que aproveitavam esta
ocasião para criticar o Clero em Portugal. Estes protagonizaram um episódio que
marcou a manifestação contra a Irmã Colecta: surgiu um convite, enviado por
liberais de Braga, a todos os que se quisessem juntar na Arcada, às 17.30 horas
desse dia 24 de Fevereiro, e daí protestarem contra a Irmã. No entanto, as
autoridades de Braga apreenderam esse convite, alegando que no mesmo não se
encontrava o nome da tipografia onde tinham sido impressos.
Nos anos seguintes, até 1910, esta forte divisão social
manteve-se na sociedade portuguesa, tendo atingido o seu auge a 2 de Agosto de
1909 numa manifestação contra o Clero, realizada em Lisboa, na qual
participaram cerca de 100 mil pessoas!
A implantação da República, em 1910, trouxe novos contornos
neste relacionamento Estado/Igreja, que neste momento não importa aflorar.
Depois de recordarmos o caso da Irmã Colecta e observarmos o
actual relacionamento duvidoso da Justiça em episódios económicos e políticos,
as expectativas relativas a este ano de 2015 deixam-nos ainda mais atentos ao
que irá ocorrer. E perante este dúbio relacionamento que impera no nosso país
apetece proferir o desabafo: valha-nos Deus!"
Fonte: Joaquim Gomes / Correio do Minho