domingo, 7 de maio de 2023

Cores

Título: Cores
Autor: Ruben A.
Editor: Assírio & Alvim
Edição: 2ª edição
Ano: 1989 (Setembro)
Género: Contos
Encadernação: Capa mole com badanas
Número de páginas:  64
Dimensões: 13,5 cm x 21,2 cm
Estado de conservação: Bom
 
Preço:    8,00 €     
Referência: 2305033
 
Sinopse: "D. Branca morava no Porto, na Rua da Cedofeita, e do seu passado ou, melhor dizendo, das suas experiências coloridas com um estudante republicano, nada se sabe. Por detrás da "mesa pé-de-galo, contando as pancadas de outro mundo batidas no soalho pela vizinha", encontra-se o vidente senhor Roxo, educado por padres e irmãos leigos e autor de obras sobre sangrias e receitas famosas de boticário. Amarelo é o sorriso suspenso de todos os espectadores da peça teatral com mais sucesso no País. Com sangue azul e alguns danos na sua personalidade ficará o novo visconde, depois de ter pago principescamente a um fidalgo falido por uma transfusão sanguínea. Num dia cinzento de chuva, estando os Pardos que nem gatos pingados, comemora-se a fundação dos ilustres e distintos Pardos de Portugal. Problemas tem o solitário Vermelho por corar quando alguém mente, mas talvez, depois de um sonho colorido, este consiga encontrar a sua cara metade."

Este conjunto de contos, escritos por Ruben A. e publicados em 1960, têm em comum o facto de a cada cor corresponder uma história. Cores é um livro divertido, cáustico e por vezes impiedoso.

Ruben Alfredo Andresen Leitão, licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas pela Universidade de Coimbra, começou por leccionar no ensino secundário, primeiro no Porto e depois em Lisboa, entre 1945 e 1947, ano em que optou por um leitorado de Cultura Portuguesa no King's College (Universidade de Londres), em cujas funções se manteve até 1951. Funcionário da Embaixada do Brasil desde 1954, troca este cargo, em 1972, pelo de Administrador da Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Dois anos mais tarde, assumiu a Direcção-Geral dos Assuntos Culturais do Ministério da Educação e Cultura, que manterá apenas alguns meses, dado ter aceite o convite para leccionar de novo, agora como professor associado, na Universidade de Oxford. É em 1975, na capital inglesa, que um enfarte de miocárdio lhe será fatal.

Como historiador, merecem especial destaque os seus trabalhos consagrados aos arquivos de Windsor e sobretudo a D. Pedro V, que Ruben A. designava como «o primeiro homem moderno que existiu em Portugal» e a quem dedicou grande parte da sua investigação.

Dramaturgo, crítico literário e divulgador cultural de reconhecido mérito, terá sido como ensaísta e como autor de textos autobiográficos – quer sob a forma de diários (Páginas, 6 vols.), quer de memórias (O Mundo à Minha Procura, 3 vols.) – que Ruben A. se deu a conhecer, mas foi sobretudo como ficcionista que as suas ironia e irreverência, associadas a uma prosa de vanguarda, a um arrojo estilístico e a uma originalidade temática, marcaram definitivamente a escrita portuguesa a partir dos anos 50.

A sua prosa diarística está, fiel ao título que lhes deu, organizada em Páginas quase soltas, de observação e de comentários, em geral não datados, escritas sobre um quotidiano feito de impressões de viagens ou evocação de atmosferas, de acontecimentos reais ou imaginados; a autobiografia, reunida nos três volumes a que chamou assumidamente O Mundo à Minha Procura, foi pelo próprio autor definida como um «encontro adulto com a sua própria personagem». À infância meio aristocrática, meio burguesa, marcada pela quinta de Campo Alegre da avó Andresen, no Porto, sucederam os anos de entre as praias da Granja e de Cascais, as cidades do Porto e de Lisboa e aquela Coimbra ainda boémia dos anos 30/40; mas foi, inequivocamente, a ida para Inglaterra que determinou a sua escrita lúcida e imparcial, ao provocar significativamente o distanciamento em relação à realidade portuguesa e o encontro com «a terra mais civilizada do mundo». A personalidade de Ruben A., que inspirou a Jacinto do Prado Coelho o apodo de «Narciso Generoso», contribuiu indiscutivelmente para o encanto que emana da obra, em que transparece o espírito inventivo, a delicadeza de sentimentos e o entusiasmo na franqueza expressiva dos sentimentos, mas onde não está omissa a mágoa que transporta pelos sucessivos desencontros que lhe desenharam a sua vida de homem discreto e tolerante e de escritor desassombrado e incisivo.

Da sua obra de ficção destacam-se A Torre de Barbela, nas palavras de José-Augusto França «um dos mais importantes romances da língua portuguesa moderna – obra barroca e louca, nas aparências da sua estrutura tensa exigentíssima»; e, pela sua linguagem inovadora, Silêncio para Quatro, «Um romance de uma grande maturidade. Maturidade de estilo: o comando seguro da palavra incomandada. Maturidade do homem na desesperada procura do amor e da liberdade, numa sociedade que abriu o ventre aos antigos relógios das coisas e que, talvez sem dar por isso, assim contribuiu a horta desolada onde cada dia o homem cultiva a sua solidão» (António Alçada Baptista).

in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. V, Lisboa, 1998