"O ambiente político no dealbar do século XIX era
efervescente em Portugal. A contestação à Monarquia aumentava de dia para dia.
Por isso, a revolta de 31 de janeiro de 1891, levantamento militar que teve
lugar no Porto, é considerada como a primeira tentativa de derrube do regime
vigente e de implantação da República em Portugal.
A cedência do governo ao Ultimatum Britânico do ano
anterior, a proclamação da República no Brasil, que tinha ocorrido dois anos
antes, suscitou grande indignação. Nos círculos republicanos, estes
acontecimentos eram vistos como uma prova da decadência e fraqueza do regime
monárquico.
No Porto, em especial, os círculos republicanos dispunham de
fortes apoios. Afinal, era aqui que havia uma tradição revolucionária e que se
prolongaria ao longo de todo o século XIX. Por isso, não foram totalmente
estranhos os acontecimentos ocorridos a 31 de janeiro de 1891 (amanhã, fará 131
anos).
Conspirava-se por toda a cidade, como descreveram João
Chagas e Manuel Maria Coelho: “[…] discutia-se em toda a parte, mormente nos
cafés; e nos lugares, os mais públicos, se exibiam opiniões revolucionárias. Os
militares confundiam-se com os civis; conspirava-se ao ar livre. […] Citavam-se
nomes de militares que aderiam. Os sargentos andavam em grupos, fardados, pelas
ruas. Não se tomava precauções, não se guardava sigilo”.
A revolta do Porto, também conhecida como “revolta dos
sargentos”, devido ao papel central desempenhado pelos sargentos de vários
regimentos de infantaria, assim como da guarda-fiscal, tem início no Campo de
Santo Ovídio, atual Praça da República, dirigindo-se depois os revoltosos ao
edifício da Câmara Municipal. Foi aí que Alves da Veiga, advogado, jornalista,
professor e um dos mais prestigiados republicanos do Porto, proclamou a
República e foi hasteada a bandeira vermelha e verde do Centro Democrático
Federal 15 de Novembro, um clube republicano do Porto.
Os revoltosos foram rapidamente cercados pela Guarda
Municipal, que disparou sobre a multidão e sufocou a revolta. Foram presos e
julgados, tendo muitos sido condenados a penas de degredo em África. No mesmo
dia, o estado de sítio foi declarado na cidade.
Apesar do seu desfecho, a Revolta do Porto, que ainda hoje é recordada na cidade, é considerada como um primeiro antecedente da proclamação da República, que apenas ocorreria 19 anos mais tarde e já em circunstâncias políticas e sociais muito diferentes."
"(...) O conflicto anglo-portuguez de 1890 foi a causa unica da revolta do Porto. É preciso recordar em que circunstancias singulares a consciência nacional despertou para a rebellião, afim de comprehender como foi possível que esse movimento se produzisse no seio de uma sociedade tão pouco adextrada para as luctas civicas, como era ao tempo a sociedade portugueza. Estava-se em principios de Janeiro, sob uma situação progressista presidida pelo sr. José Luciano de Castro e na qual detinha a pasta dos estrangeiros o sr. Henrique de Barros Gomes, quando os jornaes começaram referindo-se com insistencia a possibilidade de um conflicto com a Inglaterra, a proposito das pretenssões d`esta nação sobre os territorios do Nyassa, onde algumas expedições portuguezas de carcter scientifico operavam ao tempo. (...)"