Título: Duplo PasseioAutor: Teixeira de Pascoaes
Editor: Tipografia Civilização - Porto
Edição: 1ª ediçãoColeção: Documentos literários
Ano: 1942Começou a imprimir: 2 de dezembro de 1941
Dimensões: 12 cm x 18 cmNº de páginas: 248 páginasEncadernação: BrochuraEstado de conservação: Bom
Preço: 30,00 € (falta folha de rosto)Referência: 2312033Sinopse: Teixeira de Pascoaes é o nome literário de Joaquim Pereira
Teixeira de Vasconcelos, filho de João Pereira Teixeira de Vasconcelos,
agricultor abastado e deputado às Cortes, por Amarante, e de Carlota Guedes
Monteiro. O pai era considerado homem de notável cultura e inteligência e um
brilhante conversador, tendo tido profunda influência na orientação intelectual
e espiritual do futuro poeta. Dos vários irmãos, um deles, João, de espírito
irrequieto, viveu em África durante um longo período, tendo escrito as suas
Memórias Dum Caçador de Elefantes.
Pascoaes era de fibra diferente: «cabisbaixo, sisudo, com
uns olhos tristes e espantados», nas suas próprias palavras, ficou-se pelas
regiões do Marão, numa vida solitária, intensamente sintonizado com a Natureza.
Assim descreverá o universo da sua infância: «um pobre campanário de pedra,
cercado de três casebres e oliveiras, com um sino sentimental que chora todas
as tardes e por todos os que morrem». Espécie de «silenciosa atalaia
planetária», na expressiva fórmula de Sant'Anna Dionísio, Pascoaes fez o curso
oficial no Liceu Nacional de Amarante, tendo partido para Coimbra em 1896, com
18 anos, para se matricular no curso de Direito, de que concluiu o bacharelato
em 1901. Ainda antes da partida para Coimbra, publicara, no Porto, Embriões
(1895). Durante o período de estudante dá à luz Bello (1ª parte), 1896, Bello
(2ª parte), 1897, Sempre, 1898, e Terra Proibida, 1899, prenunciando estes dois
últimos livros, como observará Jacinto do Prado Coelho, «o sonambulismo, o
poder de colocar-se no centro subjectivo da vida e de não sair dele, o
alheamento dos outros homens, a imaginação do abstracto, o sentimento religioso
das coisas, que tornariam inconfundível a sua poesia».
A vida coimbrã nada teve, no caso de Pascoaes, da protocolar
estúrdia seguida pelos estudantes de então e de hoje, confinando-se o futuro
autor de Elegia do Amor ao seu quarto, aos seus livros, aos seus papéis e às
suas ruminações de homem que «não fora feito para este mundo», (Jacinto do
Prado Coelho). «O seu coração», observa ainda Prado Coelho, «apenas devia
palpitar pela virgem que nunca existiu e de que tem saudades, vaga aspiração de
azul e de inocência. O verdadeiro amor de Pascoaes dirigia-se à natureza, ao
silêncio, ao mistério, aos fantasmas. O mundo fantástico era o seu mundo». Em
1901 começa a exercer advocacia, em Amarante, abrindo escritório no Porto, em
1906. Em 1911 é nomeado juiz substituto em Amarante, cargo que exerce durante
dois anos, dando por finda, em 1913, a sua carreira judicial. Sobre esta sua
experiência jurídica de dez anos e sobre o conflito omnipresente entre o poeta
e o causídico, dirá mais tarde Pascoaes: «Entre o poeta natural e o bacharel à
força, ia começar um duelo que durou dez anos, tanto como o cerco de Tróia e a
formatura do João de Deus».
Entre 1912 e 1916 dirige a revista A Águia, porta-voz do
movimento Renascença Portuguesa, na qual o poeta divulga a sua filosofia do
saudosismo, a partir da qual pretende inculcar a saudade como «expressão
superior da alma portuguesa», nas suas duas vertentes de lembrança e desejo.
A sua vida, a partir desta data, pouco tem do relatável:
chumbado ao Marão, «naquele cenário de aspectos roncos, alheio à comédia
quotidiana da Terra dos homens meio anjos, meio demónios», (José Gomes
Ferreira), postado face à grandiosidade às vezes lunar da paisagem e «perto dos
deuses iniciais» (idem), Pascoaes dá-se todo à sua vida de iluminado interior,
ao seu «verbo do princípio do mundo» (idem), ao seu espanto religioso,
esquecido do mundo que o rodeia, alheio quase sempre ao seu tempo, prosseguindo
um discurso poético hostil às mais depuradas conquistas modernas, como quem
despreza – por isso, é desprezado – as guerrilhas e intrigas mais ou menos
mundanas da nossa feira literária. «Teixeira de Pascoaes», dirá o seu «irmão»
mais novo, Miguel Torga, «é o trágico aedo existencial da nossa condição de
exilados da realidade, de encobertos no descoberto, de perseguidores de imagens».
Desconfiado e mesmo hostil relativamente a Pessoa, que
considerava pouco ou nada poeta, este último retribuiu-lhe, acusando-o de
sofrer de pouca arte e prestando-lhe apenas «uma correcta deferência fria como
a veneração que é devida aos grandes deuses mortos» (Jorge de Sena). De algum
modo impregnado pelas vozes poéticas e díspares de Junqueiro e de António Nobre
(que considerava, ironizando, a nossa maior poetisa...), Pascoaes difere deles,
afinal, por construir, como observa Prado Coelho, «frases mais amplas, mais
repousadas, ao sabor clássico» e por ser «quase sempre simples e directo,
moderado nas metáforas, parece[ndo] anterior aos simbolistas pela claridade e
pureza das formas». Voz de profeta bíblico, sem ascendência clara («Mal acabei
de lê-lo, senti que nascia um deus novo não sei onde», confessa José Gomes
Ferreira), presença lunar e fantasmática, percurso de uma monotonia intensa e
dolorosa – a poesia de Pascoaes é, observa Domingos Monteiro, «a mais bela
tentativa de expressão do inexprimível que nos últimos dois séculos se realizou
em Portugal».
Eleito, em 1923, para a Academia das Ciências de Lisboa e
homenageado, em 1951, pela Academia de Coimbra, traduzido para várias línguas e
elogiado pelos seus pares mais insígnes, Pascoaes é, paradoxalmente, um poeta
não tão lido em Portugal, como devia ser: mas o seu nome e a sua obra gozam,
junto de uma qualificada minoria (minoria em relação a Pessoa, por exemplo), de
enorme e sólido prestigío e os seus livros, esgotada a edição crítica de
Jacinto do Prado Coelho, estão a ser condignamente reeditados por uma empresa
de gente nova.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. III,
Lisboa, 1994