Sinopse: Cristina Torres, "professora do ensino
técnico na Figueira da Foz e em Braga, Cristina Torres é ainda muito pouco
(re)conhecida enquanto defensora dos direitos das mulheres, republicana e
resistente à Ditadura Militar e Estado Novo, sofrendo, por isso, várias
perseguições que culminaram na sua aposentação. Teve um percurso invulgar, até
pelas origens modestas, pautando-se, ao longo de toda a vida, por uma sólida
coerência e postura cívica. Em 1914, casou com o jornalista Albano Correia
Duque de Vilhena e Nápoles [1894-1963]. Começou a frequentar muito nova as
sociedades operárias, recreativas, educativas, republicanas e maçónicas e, com
19 anos, festejou nas ruas a implantação da República, tendo militado no
Partido Republicano Português, tal como o marido. Trabalhou como costureira e
estudou, à noite, na Escola Industrial da Figueira. Em 1911, fundou a
Fraternidade Feminina, Associação de Instrução e Beneficência responsável pelo
funcionamento de uma escola nocturna para raparigas e, no ano seguinte, com 21
anos, partiu para Coimbra, onde continuou a labutar como modista enquanto
estudava no Liceu e, posteriormente, na Faculdade de Letras [anos lectivos de
1916/1917 a 1918/1919], onde concluiu, em Novembro de 1920, o curso de
Histórico-Geográficas. Leccionou, entre 1915 e 1922, em Escolas Móveis de
Coimbra e Montemor-o-Velho e, entre janeiro de 1922 e julho de 1924, exerceu como
professora provisória a docência na Escola Comercial da Figueira da Foz. Neste
último ano, e devido a diligências dos seus alunos, foi nomeada professora
efectiva da Escola Industrial de Bernardino Machado. Na sequência do trabalho
desenvolvido como educadora e pedagoga, expôs Teses em vários Congressos
[Coimbra, Abril de 1918 - Porto, 1927 - Lisboa, Outubro de 1931]; associou-se
ao projecto de fundação na Figueira da Foz de uma Delegacia da Universidade
Livre de Coimbra [1929], responsável pelo funcionamento de cursos nocturnos de
educação básica; e foi nomeada Delegada Voluntária de Vigilância para a Tutoria
da Infância da respectiva Câmara Municipal [26/02/1932]. Manteve
simultaneamente intensa actividade de propagandista, promoveu conferências,
discursou em sessões e pronunciou-se, na imprensa regional da Figueira e de
Coimbra, sobre questões feministas, educativas e políticas, para além de
publicar esporadicamente poemas e contos para crianças. Utilizou os pseudónimos
de Maria República, nos artigos de carácter político, e Nô-quim, nos textos
dirigidos aos mais novos. Mulher simples, obreira de uma persistente actividade
pedagógica dirigida aos desfavorecidos, ao operariado e às mulheres, Cristina
Torres acabou por ser vítima da corajosa oposição ao salazarismo, tendo sofrido
"prisões e martírios", e foi transferida compulsivamente, em dezembro
de 1932, para a Escola Industrial e Comercial de Bartolomeu dos Mártires, em
Braga, onde permaneceu dezassete anos. Datam desse período os dois livrinhos
[Contos e Fábulas] que escreveu, dedicados Às
raparigas e rapazes que passaram pelas minhas aulas e a quem devo as melhores
horas da minha vida, e os seus artigos para a Seara
Nova, então dirigida por Câmara
Reys. Acabou por ser afastada do ensino em 1949, na sequência da participação
na Campanha de Norton de Matos [23/03/1867-03/01/1955] à Presidência da
República, e obrigada a aposentar-se. De regresso à Figueira, subsistiu através
de explicações, continuou a resistência ao Estado Novo
pertenceu à Comissão
Nacional do III Congresso da Oposição Democrática, realizado em Aveiro, em 1973
e saudou com emoção
e alegria a data de 25 de Abril de 1974. Apesar dos seus 83 anos, integrou a
manifestação de apoio ao M.F.A. que, no dia 27 de
Abril de 1974, se realizou na Figueira. Tinha a felicidade de, pela segunda vez
na vida, festejar na rua a mudança de regime político: 64 anos depois de se
empenhar no triunfo da República, era a vez de assistir ao início da
Democracia, pela qual tanto tinha lutado e sacrificado."