(Um Operário com História)
Por: J. Silva
Editor: Edição do autor
Edição: Primeira edição
Ano: 1958
Encadernação: Brochado
Idioma: Português
Nº de Páginas:
Dimensões: In-8º
Estado de conservação: Exemplar estimado, com sinais de acidez na capa.
Preço: 30,00 € + portes de envio - Exemplar valorizado com dedicatória do autor.
Referência: 2508001
Sinopse: "Operário metalúrgico no Porto, Anastácio Gonçalves Ramos desenvolveu importante intervenção sindical e política durante a 1.ª República , sendo considerado um orador que galvanizava os comícios realizados naquela cidade devido aos seus dotes de oratória. Preso por diversas vezes, tornou-se
militante do Partido Comunista Português aquando da sua implantação no Porto, participou no movimento revolucionário de 3 Fevereiro de 1927, foi deportado para os Açores e para a Madeira, de onde se evadiu, e esteve exilado, por pouco
tempo, em Vigo. Preso dez vezes entre 1927 e 1938, conheceu, entre outros estabelecimentos prisionais, o Aljube do Porto e Peniche, voltando a ser detido
pela última vez em 1949. Nome muito respeitado entre o operariado e o sector intelectual, esteve associado à fundação da Sociedade Editora do Norte e ,
quando esta foi encerrada pela PIDE, criou a biblioteca itinerante "Afonso
Ribeiro". Faleceu em 1957, tendo, em 1958, José da Silva, seu camarada um
pouco mais velho, escrito o opúsculo Anastácio Ramos - Um Operário com História
[Edição do Autor, 1958]. Em 1968, foi organizado uma romagem ao cemitério de S.
Mamede de Infesta, onde está a sua campa, sendo oradores vários antifascistas.
Anastácio Gonçalves
Ramos nasceu em 26 de Fevereiro de 1898, em Vizela.
"Operário funileiro / zinqueiro, cedo se destacou enquanto
organizador de greves sócio-profissionais no Porto - tipógrafos, construção
civil, Carris, manipuladores do pão - e orador em comícios. Em 1919, era um dos
dirigentes do movimento operário do Porto, representando os operários
funileiros na União Sindical Operária, tendo discursado, em 14 de Outubro desse
ano, no comício realizado contra a carestia de vida, a par de Joaquim
Silva, Secretário-Geral da USO, David Oliveira, Domingos Pereira, Frederico
Tavares, Guilherme Gonçalves Baptista, José da Silva Miranda (classe
dos tecelões de seda), Maciel Barbosa e Serafim Cardoso Lucena.
Ainda nesse período, assinou, pontualmente, um texto no semanário A
Bandeira Vermelha, órgão da Federação Maximalista Portuguesa, publicado em
1919-1920."
"Dentro do movimento sindical, Anastácio Ramos tornou-se
partidário da Internacional Sindical Vermelha e integrou o Núcleo Sindicalista
Revolucionário do Porto, dinamizado pelo sapateiro José da Silva. Pouco
depois, passou a militar no Partido Comunista e integrou a sua primeira
direção local, presidida por José da Silva e composta, ainda,
por António Nunes, chefe de armazém, e José Moutinho, empregado de
escritório."
"Enquanto membro da direção do Norte do Partido
Comunista, interveio, em Março e Abril de 1926, no Bloco de Defesa Social
criado no Porto para denunciar as deportações por motivos sociais e combater o
avanço do fascismo, sendo um dos oradores nas sessões e comícios então
realizados. No dia 4 de Abril, no comício realizado na Alameda das Fontainhas,
foi um dos que discursou, juntamente com oradores que representavam outras
formações e sensibilidades políticas e sindicais: Américo Cardoso (Partido
Republicano Radical); Cerdeira Paiva (republicano liberal); Jerónimo
de Sousa (da Confederação Geral do Trabalho, mas que falou a título
pessoal); José Domingues dos Santos (Esquerda Democrática); Marcelino
Pedro (Câmara Sindical do Trabalho do Porto e redator de A Comuna);
e Raul Tamagnini Barbosa (do Partido Republicano Radical, mas que
também tomou a palavra enquanto)."
"Durante as comemorações do 1.º de Maio de 1926,
interveio, enquanto membro do Partido Comunista, no comício realizado nas
Fontainhas, tendo sido alvo de ataques de sectores anarco-sindicalistas.
Segundo José da Silva relata nas suas Memórias de um operário, Anastácio
Ramos, «com a sua voz de trovão, chamou a si a atenção geral da grande
assembleia» e, «como era do seu estilo [...] abriu as suas
considerações com um violento ataque ao Capitalismo, lançando-lhe os seus
anátemas ao jeito de excomunhões, tática que sempre levava ao rubro os
trabalhadores que o escutassem, o que desde logo lhe granjeou uma formidável
ovação».
"Ainda no mesmo mês, fez parte dos sete delegados do
Porto ao II Congresso do Partido Comunista, realizado em Lisboa nos dias 29 e
30. Preso e libertado várias vezes durante a 1.ª República, Anastácio
Ramos terá sido o principal promotor do Socorro Vermelho Internacional na
cidade do Porto e as prisões iriam suceder-se com o triunfo da Ditadura Militar
e a fascização do país."
"Participou, com o seu grupo, na revolução de 3 Fevereiro
de 1927, refugiou-se em Espanha na sequência do seu fracasso (Processo 37/Porto)
e terá sido preso ainda em 1927, disso dando conta Augusto Alves Rito em
carta a Bernardino Machado, datada de 17 de Setembro desse ano:
«[...] no Porto foi também preso o Anastácio Ramos, que esteve na
Corunha também emigrado. Este Ramos é aquele rapaz comunista, para quem eu pedi
a V. Ex.ª que o Cônsul lhe passasse um salvo-conduto» [(1927), Sem Título,
Fundação Mário Soares / DBG - Documentos Bernardino Machado, Disponível HTTP:
http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_100433 (2020-6-8)]."
"O seu Cadastro Político, arquivado na Torre do Tombo,
começa por indicar a influência que, enquanto sindicalista comunista, Anastácio
Gonçalves Ramos tinha na mobilização dos operários, datando de 9 de
Fevereiro de 1928 a primeira prisão registada enquanto preso pela Delegação do
Porto, «por ser revolucionário avançado» e «elemento comunista»."
"Libertado em 29 de Abril de 1928, manteve-se sob
vigilância do «agente secreto N.º 39» e voltaria a ser preso pela
Delegação do Porto em 1 de Outubro de 1930, a pedido da Polícia de Lisboa.
Enviado para a capital no dia seguinte, acusado de fazer «parte de um grupo
organizado pelo Comité Secreto do Partido Comunista e dedicado à prática de
atentados pessoais», foi deportado para os Açores em 8 de Outubro [Processo
4695-J]. Seguiu na embarcação "Lima" juntamente com os militantes
comunistas António Nunes, Bento Gonçalves, Francisco Pereira de
Sousa e José da Silva, para além de outros deportados políticos,
tendo sido cantada a Internacional pelos «presos e muitos
seus familiares e amigos que deles se foram despedir à praia de Santos, em
Lisboa» ["Comunistas deportados", Avante N.º
1735, 01/03/2007]."
"Evadiu-se, em 13 de Abril de 1931, da Ilha da Madeira,
onde estava com residência fixada, a bordo do vapor "Guiné",
juntamente com o comandante Sebastião da Costa e outros. Desembarcou
em frente de Tavira, seguiu para o Norte, onde permaneceu alguns dias em
Espinho e, depois, seguiu para Vigo, onde permaneceu até próximo do Natal.
Regressou a Portugal e refugiou-se em sua casa, onde foi preso em 26 de Junho de
1932. Por despacho do Ministro do Interior, foi mandado restituir à liberdade
em 14 de Julho [v. Processo 96/Porto]."
"Preso, no Porto, em 10 de Maio de 1933, «por fazer
distribuição de propaganda comunista», e libertado em 24 de Maio."
"Preso pela Delegação do Porto em 17 de Janeiro de 1935 e
libertado em 19 de Janeiro, voltou a ser detido em 2 de Fevereiro, por «manter
ligações com comunistas foragidos das Astúrias» [Processo 16/Porto, Processo
1388/SPS]. Enviado para o Aljube do Porto e libertado em 25 de Abril, voltou a
a conhecer a prisão pela terceira vez nesses ano."
Preso em 2 de Dezembro e enviado para Peniche em 22 de
Dezembro. Aí permaneceu seis meses e foi tirada esta fotografia,
cedida pelo seu primo Tiago Casal Ribeiro, onde constam, também, os presos
políticos Manuel Casal Ribeiro, António Gomes da Silva, "O
Russo", Horácio Monteiro Barbosa e Carlos Dias da Fonseca.
[Fortaleza de Peniche || 1.º Semestre de 1936 || Em
cima: Manuel Casal Ribeiro, António Gomes da Silva "O
Russo" e Anastácio Gonçalves Ramos; em baixo: Horácio Monteiro
Barbosa e Carlos Dias da Fonseca]
[Fotografia disponibilizada por Tiago Casal Ribeiro,
neto de Manuel Casal Ribeiro e primo de Anastácio Ramos]
Voltaria ao Porto em 28 de Maio de 1936, onde foi julgado
pelo TME em 5 de Junho e libertado no dia seguinte [Processo 2220/35].
As prisões sucediam-se e, em 17 de Outubro, seria detido
pela Delegação do Porto e libertado em 23 de Dezembro de 1936. Novamente preso
pela Delegação do Porto em 14 de Janeiro de 1938 e julgado pelo TME em 10 de
Agosto, foi absolvido e libertado em 17 do mesmo mês [Processo 1184/37].
A sua última prisão, a décima primeira sob a Ditadura,
data de 12 de Fevereiro de 1949, em Vila Nova de Gaia, onde vivia, sendo
libertado em 26 de Março [Processo 1167/949].
Segundo depoimento de Carlos Pereira
Soares, Anastácio Ramos terá sido «o homem mais espectacular que eu
conheci em toda a minha vida. Ele deu-se muito bem com o Abel Salazar; com essa
gente que parava ali na Brasileira, e no Rialto, e com outros fez uma
associação, que era a SEN - Sociedade Editora do Norte. Tinham sócios, e era
através dessa sociedade que a gente requisitava livros, toda a gente. A PIDE
investe contra isso e acaba a SEN. E esse Anastácio Ramos faz uma biblioteca
itinerante, chamada Afonso Ribeiro. Pegado ao Piolho, havia um café que era de
um homem da oposição, e aí se juntavam os elementos da direção dessa
biblioteca itinerante, emprestavam livros, a gente pagava 5 tostões ou 2
tostões ou 3 tostões, já não sei quanto era, e levava o livro para casa. Se não
pagasse também levava»
Faleceu em 1 de Junho de 1957, ano em que José da
Silva editou, por conta própria, o opúsculo Anastácio Ramos (um
operário com história).
Dez anos depois, em 1968, Sérgio Valente fotografou
a romagem feita ao túmulo de Anastácio Gonçalves Ramos, localizado no
cemitério de S. Mamede de Infesta - Matosinhos, tendo discursado vários
oposicionistas ao regime, como Neves Fernandes e Zé "Barbeiro".

[Sérgio Valente, um fotógrafo na oposição ||
Edições Afrontamento || 2010]
NOTA I: Agradeço a Tiago Casal Ribeiro a relevante
correcção do ano do falecimento de Anastácio Gonçalves Ramos, localizando-o em
1957 e não 1958. Segundo a mesma informação, datada de 11 de Agosto de 2020, o
primo direito Manuel Casal Ribeiro também esteve preso em Peniche em 1935/36.
NOTA II: Novo agradecimento a Tiago Casal Ribeiro pela
fotografia dos cinco presos políticos na Fortaleza de Peniche, datada do 1º
semestre de 1936 e enviada em 3 de Fevereiro de 2022.
[João Esteves]
[corrigida data de falecimento em 11/08/2020]
[alterada em 04/02/2022]