Número: 1
Ano: 1974 (11 de Novembro)
Capa de: José Araújo
O 28 de Setembro foi a primeira grande tentativa de conter a
democratização e a revolução. Constituiu-se como mais uma investida – até então
a de maior alcance – do Presidente da República, General António de Spínola,
para tomar o poder, conjugando uma manifestação de rua em seu apoio com
movimentações militares e uma conspiração palaciana visando a demissão do
Primeiro-Ministro, Vasco Gonçalves, a dissolução da Comissão Coordenadora (CC)
do Movimento das Formas Armadas (MFA), a declaração de estado de sítio e o
reforço dos poderes presidenciais.
Em crescente isolamento, Spínola e os setores que lhe eram
afetos, perante o avanço da descolonização e do reconhecimento das
independências, o poder crescente do MFA e dos partidos de esquerda, a vaga de
ações e lutas dos movimentos sociais e aquilo que se constituía como um
processo revolucionário, organizam uma manifestação de uma alegada «maioria
silenciosa», de apoio ao Presidente da República que legitimasse o reforço dos
poderes presidenciais e a declaração de estado de sítio.
Tratava-se de uma ação global, com ramificações em Angola e
Moçambique, passível de degenerar em violência e até num golpe de Estado. O
objetivo era, por um lado, a contenção do processo revolucionário, mediante uma
viragem à direita e o recuo das liberdades, e, por outro, ganhar algum controlo
sobre a descolonização.