Nascido em São João do Peso, no
concelho de Vila de Rei, filho de José António Neves e de sua mulher Maria
Sofia Cardoso Pires, ele daí natural e ela de Cardigos, em Mação, foi muito
cedo para Lisboa com os pais, ele Oficial da Marinha Mercante, ela dona de
casa, a irmã, Maria de Lurdes Neves Cardoso Pires (5 de Outubro de 1927) e o
irmão, António Nuno Cardoso Pires Neves (13 de Junho de 1931 - 9 de Abril de
1953).
Entre 1935 e 1944 frequentou o Liceu Camões, onde teve como professores Rómulo de Carvalho e Delfim Santos, iniciando, de seguida, uma nunca terminada licenciatura em Matemáticas Superiores, na Faculdade de Ciências.
Em 1945 alista-se na Marinha Mercante, como praticante de piloto sem curso, actividade que abandona compulsivamente, «suspeito de indisciplina e detido em viagem do navio Niassa» (c.f. auto da Capitania do Porto de Lisboa, de 02-02-1946).
Já depois de optar pela carreira de jornalista, veio a assumir a direcção das Edições Artísticas Fólio, onde Aquilino Ribeiro publicou O Retrato de Camilo, e onde lançou a colecção Teatro de Vanguarda, que contribuirá para a revelação em língua portuguesa de obras de Samuel Beckett, William Faulkner e Vladimir Maiakovski.
Em 1959 foi para Itália, afim de estagiar na revista Época, de Milão, preparando-se para a publicação de um semanário em termos semelhantes ao da Época, que a censura impediu. Entretanto conseguiu lançar a revista Almanaque, cuja redacção integrou figuras como Luís Sttau Monteiro, Alexandre O'Neill, Vasco Pulido Valente, Augusto Abelaira e José Cutileiro.
Em 1953, morre o seu irmão num acidente de aviação em cumprimento do serviço militar, quando o Harvard T6 em que treinava se incendiou em pleno voo acabando por cair e explodir. Dez anos mais tarde, Cardoso Pires dedica-lhe «in memoriam» o romance O Hóspede de Job como protesto contra a guerra fria e a colonização militares.
A 8 de Julho de 1954 casou com Maria Edite Pereira (5 de Janeiro de 1932), Enfermeira, da qual teve duas filhas, Ana Cardoso Pires (4 de Setembro de 1956), casada e mãe de uma filha Joana (7 de Novembro de 1982) e um filho Rui (13 de Março de 1985) Cardoso Pires Tavares, e Rita Cardoso Pires (22 de Novembro de 1958), solteira e sem geração.
Foi militante do Partido Comunista Português, do qual se desvincula após a Revolução de 25 de Abril de 1974.
Foi sepultado em 1998 no Talhão dos Artistas do Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.
Carreira literária
Unanimemente considerado um dos
maiores escritores portugueses do século XX, numa galeria onde podemos
encontrar nomes como José Saramago ou António Lobo Antunes, a sua carreira
literária está marcada pela inquietação e pela deambulação. Autor de dezoito
livros, publicados entre 1949 e 1997, não se identifica com nenhum grupo, nem
se fixa em nenhum género literário, apesar de ser considerado sobretudo como um
romancista. A sua relação mais duradoura no campo literário deu-se com o
movimento neo-realista português, até ao 25 de Abril de 1974, justificada com a
oposição ao regime autoritário português. A inserção da sua obra no
neo-realismo é, por essas razões, contraditória. Frequentou também os grupos
surrealistas, no início da década de 1940. Foi influenciado pela estética de
Hemingway, pela narrativa cinematográfica, o que resulta em discursos curtos e
diálogos concisos.
O Delfim, de 1968, é geralmente considerado a sua obra-prima, em que o narrador assume uma condição de forasteiro, aparentemente descomprometido com uma realidade anacrónica. A Gafeira, aldeia inexistente do distrito de Leiria, simboliza o Portugal marcelista, com um crime no centro da história. Tendo sido recebido, até 1974, como romance neo-realista, tem despertado um interesse crescente como narrativa pós-modernista. Pode efetivamente ser lido como o primeiro romance português no qual confluem as principais linguagens estéticas norteadoras do futuro pós-modernismo português devido à mistura de géneros, à polifonia, à fragmentação narrativa e à metaficção.
Obras
Os Caminheiros e Outros Contos
(Contos), 1949
Histórias de Amor (Contos), 1952
O Anjo Ancorado (Novela), 1958,
com prefácio de Mário Dionísio
Cartilha do Marialva (Ensaio),
1960
O Render dos Heróis (Teatro), 1960
Jogos de Azar (Contos), 1963 ;
1993
O Hóspede de Job (Romance), 1963
O Delfim (Romance), 1968
Dinossauro Excelentíssimo
(Sátira), 1972
E agora, José ? (Ensaio), 1977
O Burro em Pé (Contos), 1979
João Janito, o burro em pé,
Moraes, 1979
Corpo-Delito na Sala de Espelhos,
1980
Balada da Praia dos Cães
(Romance), 1982
Alexandra Alpha (Romance), 1987
A República dos Corvos (Contos),
1988
Cardoso Pires por Cardoso Pires
(Crónicas), 1991
A Cavalo no Diabo (Crónicas), 1994
De Profundis, Valsa Lenta
(Crónicas), 1997
Lisboa, Livro de Bordo (Crónicas),
1997
Lavagante, editado em 2008
Celeste & Làlinha — Por Cima
de Toda a Folha (Ilustrações de Rita Cardoso Pires), 2015
Filmes
Algumas das suas obras foram
adaptadas ao cinema:
A Rapariga dos Fósforos,
realização de Luís Galvão Teles (1978)
Casino Oceano, realização de Lauro
António (1983)
Ritual dos Pequenos Vampiros,
realização de Eduardo Geada (1984)
Balada da Praia dos Cães,
realização de José Fonseca e Costa (1987
O Delfim, realização de Fernando
Lopes (2001)
Teatro
Algumas das suas obras foram
também levadas à cena:
O Render dos Heróis (1960)
Corpo Delito na Sala de Espelhos
e ao Teatro Radiofónico, como
"Uma simples flor nos teus cabelos claros" (EN) e "Balada da
Praia dos Cães" (folhetim EN)
Prémios e homenagens
Prémios ao autor
Prémio União Latina de Literaturas
Românicas, Roma, 1991
Astrolábio de Ouro do Prémio
Internacional Ultimo Novecento, Pisa, 1992
Prémio Bordalo de Literatura da
Casa da Imprensa, 1994
Prémio Bordalo de Literatura da
Casa da Imprensa, 1997
Prémio Pessoa, 1997
Grande Prémio Vida Literária
APE/CGD, 1998
Prémios às obras
Prémio Camilo Castelo Branco, pela
Sociedade Portuguesa de Escritores, 1964 (O Hóspede de Job)
Grande Prémio de Romance e Novela,
pela Associação Portuguesa de Escritores, 1982 (Balada da Praia dos Cães)
Prémio Especial da Associação dos
Críticos do Brasil, São Paulo, 1988 (Alexandra Alpha)
Prémio D. Diniz, da Fundação Casa
de Mateus, 1997 (De Profundis, Valsa Lenta)
Prémio da Crítica do Centro
Português da Associação Internacional de Críticos Literários, 1997 (De
Profundis, Valsa Lenta)
Condecorações
A 1 de Outubro de 1985 foi feito
Comendador da Ordem da Liberdade.
A 4 de Fevereiro de 1989 foi
agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito.